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16 de Abril de 2024

Nova fase da Lava Jato mostra lobby de empreiteiras ajudadas por Lula no exterior

Ex-presidente teria sugerido que OAS o levasse ao Chile para palestras logo após a eleição de Michele Bachelet

há 9 anos

Mensagens interceptadas pela Polícia Federal entre executivos da construtora OAS, e que constam do processo contra a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, descrevem com detalhes o esquema de lobby e indício de tráfico de influência do ex-presidente Lula em países da África e da América Latina. A 14ª fase da Operação Lava Jato foi deflagrada nesta sexta-feira, resultando na prisão dos executivos Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo.

A troca de mensagens ocorreu em 2013 entre Léo Pinheiro e Cezar Uzeda, presidente e diretor da área internacional da OAS, respectivamente. Nos textos, Lula leva o apelido "carinhoso" de Brahma e é citado nos termos de uma aproximação com o embaixador de Moçambique no Brasil, Murade Isaac Miguigy Murargy. O facilitador do encontro, segundo as mensagens, é o ex-ministro Franklin Martins. Diz Pinheiro: "Tem o Brahma no meio. Quem marcou (o encontro) foi a Mônica, mulher de Franklin (Martins). Segundo ela, seria uma aproximação para 2014. Ele deve coordenar. Disse-me também que os dois (Odebrecht e AG) estão em pé de guerra. Vou confirmar sua ida. Nesse mesmo horário vou estar com Aécio (Neves)", escreveu o ex-presidente da empreiteira, preso em novembro do ano passado, e que foi liberado após um pedido de habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A esposa de Franklin Martins, Monica, também enviou mensagem a Pinheiro detalhando o perfil do embaixador. "Diz ao Cesar (Uzeda) que estarei com ele. Me encontre na porta da Embaixada. Ele vai falar sobre campanha política e novos projetos. Ele que colocou a Suzano e a Andrade lá no governo. Era o chefe de gabinete do presidente (de Moçambique)", explica.

A troca de mensagens mostra que uma viagem ao Chile, onde Lula palestrou em novembro de 2013, bancada pela OAS, foi ideia do próprio ex-presidente. Na tarde do dia 12 de novembro, Léo Pinheiro questiona Cezar Uzeda sobre as obras da OAS no Chile, afirmando que "o Brahma está procurando saber". Quando o executivo responde listando as obras, a réplica de Pinheiro, às 22h do mesmo dia, detalha a ideia do ex-presidente. "O Brahma quer fazer a Palestra dia 24/25 ou 26/11 em Santiago. Seria uma mesa redonda com 20 a 30 pessoas. Quem poderíamos convidar e onde?", diz Pinheiro.

Segundo o diretor da área internacional, os convites estavam condicionados às eleições presidenciais, em que a vencedora terminou sendo a socialista Michele Bachelet. "Os convidados dependerão do resultado das eleições de domingo próximo. O Chile é um país mais sofisticado. Talvez um almoço com participação de empresários, políticos com orientação mais à esquerda e intelectuais. Submeteríamos os convidados à crítica prévia dele (Lula)", diz Uzeda.

Em outra conversa, os empresários definem que a OAS bancará a viagem de avião, mas temem se é conveniente que a viagem seja na mesma aeronave que a do ex-presidente. "Leo, colocamos o avião à disposição de Lula pra sair amanhã ao meio dia. Seria bom você checar com Paulo Okamoto se é conveniente irmos no mesmo avião. Caso contrário, vamos na quarta feira", afirma o diretor da área internacional.

Em relação ao mesmo evento, os executivos conversam sobre as diferenças entre Dilma e Lula em relação à agenda internacional. "A agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo Brahma. No entanto, acho que ajuda a lubrificar as relações. A senhora não leva jeito, discurso fraco, confuso e desarticulado, falta carisma"

O mesmo modelo de visita, patrocinada pela OAS, ocorreu em janeiro de 2014, no Uruguai. Diz Uzeda: "Leo, o formato segue o modelo exato do que foi feito no Chile: pela manhã, grupo seleto de empresários uruguaios ou que atuam por lá. O tema passará sempre por alguma derivada da integração regional. Importante saber se ele gostaria de algum retoque ou mudança na organização. Quanto aos nossos interesses no Uruguai, na pauta está o porto de águas profundas em La Paloma (Odebrecht propôs uma PPP) e um gasoduto para levar gás ao Brasil".

Os executivos também citam contato do então ministro Fernando Pimentel para ajudar nas negociações na Argentina, sobre a construção de uma usina hidrelétrica. "(Julio) De Vido (ministro do Planejamento da Argentina) nos ligou preocupado porque o tema das UHE NK não estaria na pauta da reuniao da Camex (Câmara de Comércio Exterior ligada ao Ministério do Desenvolvimento, pilotado por Pimentel) da próxima terça e a data limite para apresentação pelas empresas brasileiras da carta do BNDES é dia 21/02, data em que ele abrirá os envelopes de preço. Se não apresentamos a carta em 21/02, seremos desclassificados e ficaremos mal na Argentina. A Odebrecht não está muito preocupada com isso. Ou acha que perde para nós no preço, ou ja está satisfeita por que ganhou do BNDES um financiamento para outra obra de 1,5 bilhão de dólares na Argentina", diz, Léo Pinheiro.

No mesmo diálogo, o executivo da OAS relata gestões de Pimentel para interceder pela Vale na Argentina. "FP vai para Argentina amanhã, domingo, resolver problema da Vale com o ministro De Vido. O governo da Argentina ameaçou a Vale: 'ou investe no país ou libera a mina de potássio do rio Colorado para a China explorar e sai do país'. Mais uma rateada de Murilinho (Murilo Ferreira, presidente da Vale), e o governo brasileiro se move em peso pra resolver", diz Pinheiro.

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14 Comentários

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Curioso. Por mais que releia a matéria não encontro qualquer problema. Ex-presidentes, como Bill Clinton, FHC etc., depois que deixam os governos, criam fundações ou institutos e viajam pelo mundo promovendo as empresas de seus países, em palestras, almoços, jantares, apresentando pessoas. É um capital político normal, usado no fortalecimento de empresas nacionais, para obterem novos mercados e gerar empregos. Conheço pessoas que foram a Angola, trabalhar em obras da Odebrecht. Na iniciativa privada isso é a mais absoluta rotina. Que estranho. continuar lendo

O problema é que as investigações têm demonstrado que o ex-presidente sabia e pedia auxílio a elas na obtenção de empréstimos junto ao BNDES. Essas empresas tiveram acesso a informações privilegiadas de licitação (aumentando o preço de obras), pagaram a reforma do sítio do ex-presidente, a campanha dele e da atual presidente com o dinheiro de contratos superfaturados de obras públicas dentro do Brasil e de outros países do mundo com dinheiro do BNDES.
Esse dinheiro deveria financiar obras de infraestrutura dentro do país, ao invés de Angola, Venezuela, Cuba, Argentina, Colômbia, Equador... Empresas que disputam licitações igualmente geram concorrência e melhor preços para a Administração. E esse dinheiro que foi perdido ou encheu os bolsos de muita gente poderia ter construído escolas, hospitais, salvado muitas vidas que não tiveram medicamento...
O problema é que a rotina tem ficado cada vez mais torta. continuar lendo

Não sei... Todos os países industrializados têm bancos de financiamento para empresas no exterior, como o Eximbank, pois se sabe que o investimento fora do país gera remessa de lucros, além do "soft power". É o normal. Agora, se ele estivesse em algum cargo público aí sim estaria erradíssimo, total. Não era o caso nesse período. Além disso, eu acho que dessa maneira nenhuma empresa que tenha ganho licitação em Estados e Municípios poderia financiar campanha eleitoral de governadores e prefeitos. De alguma maneira haveria conflito de interesses. Mas essa sempre foi e continua sendo a regra nesse país, pois certamente essa Odebrecht financiou campanhas e palestras de diversos políticos, de todos os partidos. Continuo achando que não faz sentido. Pelo menos pelo que consta nessa matéria aí. continuar lendo

Pois é, amigo. Veja as outras matérias também. A situação virou uma troca de interesses.E já está até bem provado. Libera aquele dinheiro lá que eu te ajudo com esse dinheiro ca. Veja aqui no site mesmo, na Veja e na Época. Abraço. continuar lendo

Frederico Fernandes e daí que as empresas pagaram pelo site do ex presidente? O Instituto FHC recebeu tanto ou mais dinheiro dessas empresas inclusive da SABESP, mas nesse caso pode né? Quanto ao BNDES, quem disse que o Lula interveio? E se interveio? Qual o problema? Ele e ex presidente, é cidadão, sequer ocupa um cargo público. continuar lendo

Perfeito. Tudo após a saída de Lula do poder. Aliás, ele sempre fez lobby para os exportadores de carne de frango, gado e porco, entre outras atividades. Para mim, a investigação lisonjeia o ex-presidente como defensor dos empresários brasileiros. continuar lendo

É porque você tem razão Henrique. Não há nada de errado em querer projetar empresas nacionais no cenário mundial. O ex-presidente contrariou interesses de grandes grupos e estes estão usando os serviços de políticos descompromissados com o Brasil auxiliados pela mídia, que não perde a oportunidade de promover o caos manipulando a opinião pública. continuar lendo

Lula é burro e ladrão, tenta manter alguém no poder até que tudo prescreva... ou, implante-se o regime mais corrupto do mundo, o fundado no marxismo/leninismo/stalinismo.... Não acredita? Continue com eles ai no poder e, haverão de ver... continuar lendo

Por mais que o sr. Lula queira nestas horas parecer ter Alzaimer, ele com certeza é o chefe de toda a quadrilha em tods os casos, não dianta negar. Ele substima a inteligencia de todos os brasileiros se acha mais esperto e contra ataca para não ser atacado, não se toca que isso não funciona masi , "se está com raiva rira as calças e pisa em cima" nós não temos culpa dele se achar tão inteligente e esperto que ninguem iria descobrir os podres qu ele fez. continuar lendo

O comentário será restrito a influência mesmo fora da Presidência do LULA. As grandes empreiteiras dependem de recursos públicos, pois não colocam em risco seu próprio capital. Cabe ao ex-Presidente, autorizar o BNDES a financiar essas transações, que trazem poder e ganhos políticos e pessoais. Funciona como uma Máfia. Quem se atrever a questionar, pode morrer. continuar lendo