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18 de Abril de 2024

Justiça do Paraná avança sobre a liberdade de expressão

Após publicar reportagens que mostravam que membros do Poder Judiciário e do MP têm rendimentos acima do teto legal, jornalistas da ‘Gazeta do Povo’ passam a responder a dezenas de processos movidos por juízes

há 8 anos

Justia do Paran avana sobre a liberdade de expresso Presente ao Fórum VEJA, evento realizado pela revista em maio, o juiz Sergio Moro foi o primeiro a concordar com um amargo raciocínio do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Barroso disse que Moro e o ex-ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão, não teriam alcançado a condição de "heróis nacionais" se combater a corrupção "fosse regra" no país. Moro admite ficar comovido com as manifestações a seu favor (máscaras com seu rosto explodiram no Carnaval). Nem de longe, no entanto, ele atua para figurar como celebridade. Involuntariamente, o magistrado se tornou modelo a ser imitado de profissional do Judiciário em todo o país (leia a seção Conversa, na pág. 38). Mas, justamente em seu estado, no Paraná, um punhado de magistrados tem assumido a mais arriscada postura no momento em que se está buscando equiparação com uma figura irrepreensível: o afrouxamento da tolerância à crítica. Há dois exemplos recentes do que se poderia chamar de "complexo de Moro" - o afã de querer parecer implacável como o juiz da Lava-Jato, mas confundindo o enorme apoio popular ao combate à corrupção com uma licença para quase tudo.

O caso mais recente aconteceu em Curitiba. Após publicarem reportagens que mostravam que membros do Poder Judiciário e do Ministério Público do Paraná chegam a ter rendimentos mensais mais de 20% acima do teto estabelecido por lei, de 30 471 reais, jornalistas do jornal Gazeta do Povo, o principal do estado, passaram a ser alvo de processos. Já são 44, movidos principalmente por juízes. Até o momento, os profissionais do diário percorreram mais de 6 000 quilômetros para comparecer a audiências. A Gazeta reclama do que seria uma ação orquestrada. Em um áudio enviado via WhatsApp, o presidente da Associação dos Magistrados do Paraná, Frederico Mendes Junior, propõe que os juízes entrem com ações individuais contra o jornal. Diz Leonardo Mendes Júnior, diretor de redação da publicação: "Esses magistrados não veem que estão atacando a liberdade de expressão e punindo os profissionais previamente". Em maio, a Gazeta foi condenada a indenizar um dos juízes em 20 000 reais - no total, os processos cobram indenização de 1,4 milhão de reais -, com a justificativa de que ele havia sido constrangido.

A sentença foi proferida por Nei Roberto de Barros Guimarães, que, em março, a pedido de uma delegada federal, determinou a retirada do ar de dois textos publicados no blog do premiado jornalista Marcelo Auler, que já trabalhou em VEJA. Neles, Auler tratava de vazamentos de informações sobre a Lava-Jato. O blogueiro ainda foi alvo de uma segunda ação, movida por um delegado, que o forçou a tirar de sua página mais oito reportagens e estabeleceu uma autêntica censura prévia, proibindo-o de publicar futuros textos com "conteúdo capaz de ser interpretado como ofensivo ao reclamante".

Para o juiz Rogério Ribas, que está processando a Gazeta, a série de reportagens do jornal atentou contra a sua honra. "Meu filho foi até indagado na faculdade", afirma. Não há nenhuma ilegalidade em seus benefícios. O problema está na política de vencimentos da esfera pública. Ribas se encaixa nela, simples assim. Entretanto, para além do debate salarial, o que ocupa o centro da questão é a liberdade de imprensa, pilar da democracia, e a atitude de um punhado de juízes do Paraná contra um blogueiro e um jornal. O apoio popular a Moro, à Lava-­Jato, à própria Justiça não é chancela irrestrita a magistrados. Vale a lição do escritor francês Paul Valéry (1871-1945): "A ideia de Justiça é, no fundo, uma ideia (...) de volta ao equilíbrio".

Fonte: Veja

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6 Comentários

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É tipo assim: fale dos outros, mostre a podridão alheia, mas não interfira nos meus rendimentos. continuar lendo

Os servidores públicos federais em geral tem seus rendimentos publicados pelo MPOG, se não me engano. continuar lendo

Merecido. Por mais que os vencimentos dos servidores do judiciário seja de acesso ao cidadão, jornalistas sempre distorcem a verdade para talvez criarem vilões.
Nada de errado em publicar quais os salários dos magistrados, contudo há de se observar acerca do teto constitucional como limite remuneratório, a luz da EC-47 que exclui as verbas de caráter indenizatório.
Como é sabido, jornalistas vivem de visibilidade, e como sempre, foi feito sensacionalismo com o nome dos magistrados, dando a entender que havia algo errado.
Queria eu que todas as vezes que um jornalista escrevesse algo distorcendo a verdade e os fatos respondesse por seu ato, talvez assim aprendam a usar de forma mais consciente seu direito de liberdade de imprensa. continuar lendo

O praticado é um atentado a liberdade de imprensa, fazem o mesmo que os membros da esquerda fizeram para prejudicar aos militares que selecionaram como seus principais inimigos.
É lamentável que pessoas de quem se esperava respeito ao espírito da lei, façam o uso de sua condição privilegiada para usá-la em detrimento de outrem. continuar lendo