Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
25 de Abril de 2024

Luxo com nosso dinheiro

Ao receber o controle de duas diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, o ex-presidente estabeleceu seu próprio balcão de negócios no petrolão. A Lava Jato foi bater à sua porta.

há 9 anos

Luxo com nosso dinheiro Nas projeções mais otimistas, calcula-se que corruptos e corruptores envolvidos no escândalo da Petrobras tenham desviado algo perto de 19 bilhões de reais dos cofres da empresa. A estatal era o paraíso, o nirvana para gente desonesta, incluindo os empreiteiros, os servidores públicos e os políticos já identificados como parceiros da partilha do dinheiro roubado. Na semana passada, o lobista Julio Camargo, um dos delatores do caso, tentou explicar ao juiz Sergio Moro a essência do petrolão. Na visão dele, a corrupção na Petrobras poderia ser ilustrada pela figura do fruto proibido. Os contratos eram como maçãs que os empreiteiros ansiavam saborear em sua plenitude. O que os impedia eram os partidos e os políticos da base do governo. "É aquela história, olhar a maçã e dizer: 'Como vou pegar essa maçã? Tem uma regra do jogo que eu preciso atender. Do contrário, não vou comer a maçã' ", disse Camargo. A "regra do jogo", o caminho mais curto para alcançar a árvore e apoderar-se dos frutos, como as investigações da Operação Lava-Jato já revelaram, era pagar propina. Durante os dois primeiros mandatos de Lula e ao longo de todo o primeiro mandato de Dilma Rousseff, o PT usou o pomar para governar. Distribuir as maçãs virou um método, um atalho que o partido encontrou para garantir a fidelidade dos amigos e seduzir eventuais adversários, transformando-os em cúmplices de um crime contra toda a sociedade. Na semana passada, a polícia bateu na porta de alguns convivas do banquete.

Os investigadores cumpriram 53 man­dados de busca e apreensão nas residências e nos escritórios de políticos suspeitos de corrupção no escândalo da Petrobras. Entre os alvos estavam parlamentares e ex-parlamentares, incluindo dois ex-ministros do governo da presidente Dilma. No episódio mais emblemático da ação, os agentes devolveram ao noticiário político-policial a antológica Casa da Dinda, a residência do ex-presidente Fernando Collor, cenário do escândalo que, nos anos 90, levou ao primeiro impeachment de um presidente da República. Os policiais apreenderam documentos, computadores e três carros de luxo da frota particular do atual senador: um Lamborghini Aventador top de linha (3,5 milhões de reais), uma Ferrari vermelha (1,5 milhão de reais) e um Porsche (700 000 reais). Nem o bilionário empresário Eike Batista em seus tempos de bonança exibia modelos tão exclusivos - e caros.

Collor, até onde se sabe, é um empresário de sucesso. Sua família é proprietária de emissoras de televisão e rádio em Alagoas, terrenos, apartamentos, títulos, ações, carros... A relação de bens declarados pelo senador soma 20 milhões de reais, o suficiente para garantir vida confortável a qualquer um.

Collor, apesar disso, não resistiu à tentação e adentrou o pomar petista. Em 2009, ele assumiu a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado. Com significativo poder para fiscalizar os destinos das obras do PAC, a vitrine de campanha da então candidata Dilma Rousseff, o senador se apresentava como um obstáculo para o governo. A maçã lhe foi oferecida. O ex-presidente Lula entregou ao senador duas diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras - a diretoria da Rede de Postos de Serviço e a de Operações e Logística. No comando desse feudo, segundo os investigadores, Fernando Collor criou o seu balcão particular de negócios dentro da maior estatal brasileira, o que lhe renderia milhões em dividendos.

Segundo depoimentos colhidos na Lava-Jato, o esquema obedecia a uma lógica simples. As empresas que tinham interesse em assinar contratos com a BR acertavam antes "a parte do senador". Foram dezenas de contratos. A polícia já identificou dois que passaram por esse crivo. Num deles, de 300 milhões, um empresário do ramo de combustíveis pagou a Collor 3 milhões de reais em propinas para viabilizar a compra de uma rede de postos em São Paulo. A operação foi revelada pelo doleiro Alberto Youssef em acordo de delação premiada. Encarregado de providenciar o suborno ao senador, Youssef fez a entrega de "comissões" em dinheiro, depósitos diretos na conta do parlamentar e transferências para uma empresa de fachada que pertence a Collor. O Lamborghini, até recentemente o único do modelo no Brasil, está em nome da tal empresa, o que fez os investigadores suspeitar que o carro foi bancado com dinheiro desviado da Petrobras. Desde o ano passado, quando explodiu a Operação Lava-Jato e as torneiras da corrupção se fecharam, o IPVA do carro não é pago pelo ex-presidente. A dívida acumulada é de 250 000 reais. Mas não é desapego do senador. Zeloso, ele só usava o carro para passeios esporádicos a um shopping de Brasília. Quando isso acontecia, o Lamborghini permanecia sob a vigilância de dois seguranças do senador, que fixavam um perímetro de isolamento em torno do veículo para evitar a aproximação dos curiosos. A frota de luxo de Collor - revela Lauro Jardim, na seção Radar - conta com um Rolls-Royce Phantom 2006, mais exclusivo ainda do que o Lamborghini.

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/como-collor-foi-aceito-no-pomar-magico-dos-petistas

  • Publicações462
  • Seguidores769
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações160
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/luxo-com-nosso-dinheiro/210276621

Informações relacionadas

Notíciashá 10 anos

O luxo de alguns e a desigualdade de riqueza e de renda

10 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

e triste ver o dinheiro do povo sendo gasto sem beneficiar a coletividade continuar lendo

Melhor artigo até agora que li ... descreve muito bem a política do toma-lá-dá-ca praticada por este político, tão famoso por ostentar, aliás, justiça seja feita, ele é o pai da atual ostentação ... quem não se lembra dos passeios de lacha, jet ski, caças da aeronáutica?

.....
Um fato curioso ao aparecer o nome de Collor que colocou estrategicamente a esposa como sócia-gerente da empresa de fachada ...

... o TRE-AL firmou um contrato de 7 milhões de reais com as Organizações Arnon de Mello (OAM) a qual pertencem a rádio e TV Gazeta de Alagoas (emissora local da Rede Globo).

Isso só foi possível porque Collor não é o sócio-gerente da empresa, o que impediria de firmar contrato com o poder público já que exerce o cargo de Senador ... mas aí vem a pergunta: quem é o sócio-gerente?

Pasmem !!! ... Pedro Collor ... morto a mais de 22 anos ... é o que consta nos registros da Junta Comercial de Alagoas. Como nossa legislação é linda, não?! Defunto-gerente.

Fonte: http://cadaminuto.com.br/noticia/242697/2014/03/19/noticias continuar lendo

Os brasileiros endividados, eu mesma tenho clientes inadimplentes por causa da crise. As pessoas sequer estão dormindo direito, e toda essa preocupação, toda esta mixórdia reinante no país sequer existiria se os governantes parassem de assaltar os cofres públicos na forma compulsória como o fazem.

Como este excelente texto apontou, a corrupção, o vilipêndio dos cofres públicos foi injustificável (não que haja justificativa para a prática criminosa). O autor dos crimes sempre foi abastado. E acerca do Porsche, este sequer estava pago em sua integralidade para vermos que a corrupção deste ser está tão entranhada que ele parece ser incapaz de resistir. Como um obeso diabético em frente à uma caixa de bombons. Só que os bombons não são dele.

Sinceramente, não penso que este país tem jeito. A corrupção é encontrada em todos os setores, em todas as instituições/ empresas. E isso desde 1500.. continuar lendo

A pergunta é: Como deixamos um canalha desse ocupar a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado???

Já era pra ele ter sido banido da vida pública há muito tempo. continuar lendo